É com muita saudade
e também com o contentamento de ter participado da história do carnaval de
Fortaleza e, sobretudo, da alegria de tantas pessoas que tornamos pública a
decisão de não mais botar o Bloco Sanatório Geral na rua. Saímos de boa conosco
e, sobretudo, com os brincantes que deram existência ao Bloco. Hoje queremos
dizer do desfecho e do que para nós foi o fundamento do Bloco e, cremos, de todos
os laços que dele surgiram.
O Sanatório
nasceu da convergência espontânea de desejos, dessas que só o não-sabido da
vida é capaz de produzir. Somos uma geração cujas infâncias foram tecidas nas
festas do interior: dizemos do interior do Nordeste e do interior de cada um de
nós. Portanto, os carnavais do Moraes Moreira, as brincadeiras de rua, a infância
criativa e as memórias por escrever foram pássaros que pousaram no mesmo fio
que nos conduziria ao Sanatório Geral. Somos filhos de um tempo e, portanto,
filhos de um fluxo.
Se dizemos
isso, é porque os motivos que levaram à revoada dizem respeito principalmente às
re-evoluções que se fizeram na vida singular e concreta de cada um de nós.
Nesses dez anos, muita gente chegou, muita gente partiu, mães e pais surgiram,
casais se desenlaçaram e amores se encontraram. Fizemos também diversas
escolhas e aceitamos assim as consequências e efeitos delas. Acertamos muito e
erramos muito também. Mas chegou o tempo em que os problemas que sempre
acompanharam o fazer do Bloco pesaram demais sobre o coletivo que lhe animou
por dez anos e a alegria deixou de ser a prova dos nove. O que queremos evidenciar neste momento não
são os problemas, que já são pra lá de sabidos e divulgados, mas o esgotamento
que a renitência e insolubilidade deles impôs ao grupo criador. O Sanatório
nunca foi dado a mimimis ou barganhas. Se hoje anunciamos o encerramento do
Bloco, é porque de fato se esgotaram todas as nossas possibilidades de fazê-lo
com a leveza e a artesania que teciam sua natureza.
Nos despedimos com a voz
embargada, com muitos curtas-metragens passando em cada linha desse texto. São
sonhos, desejos e vidas que se escreveram e, acreditamos, continuarão se multiplicando
e se escrevendo com a tinta fina da liberdade de deixar viver o que cada um
é.
Bloco Carnavalesco Sanatório
Geral
27/12/2016